Caros parceiros,
o retorno da nossa parceria em 2020 foi de -9,23%. A cota encerrou o ano a R$1,565040992.
Nossa parceria ficou 12,15 pontos percentuais aquém do índice Bovespa, que subiu 2,92% no ano.
Ano | Nossa Parceria | Ibovespa |
---|---|---|
2017 | 29,44% | 26,86% |
2018 | 11,51% | 15,03% |
2019 | 59,25% | 31,58% |
2020 | -9,23% | 2,92% |
Acumulado | 108,64% | 97,62% |
Nossos ativos sob administração cresceram 116,62% no ano. Dois fatores contribuíram para este crescimento: a confiança de todos os parceiros, mantendo as posições e em alguns casos com aportes quando os preços das empresas atingiram níveis muito convidativos, e a posterior subida destes níveis. A cada carta relembro vocês de que toda a minha poupança vai para a nossa parceria. O princípio: objetivos compartilhados e a certeza de que estou cuidando da parceria com o mesmo zelo com que cuido do futuro da minha família.
Mesmo concordando que o tamanho puro e simples do total investido não necessariamente traz um benefício direto a cada um de nós parceiros, acredito que a partir de certo tamanho ele vai ser uma vantagem para todos: quando tivermos uma parceria grande o suficiente para que eu possa me dedicar a ela em tempo integral. Penso que o fatores primordiais para o nosso sucesso a longo prazo são temperamento e paciência. Tempo e disponibilidade para estudar as oportunidades podem fazer a diferença também. Estou trabalhando bastante para isso: ao longo de 2020, e mesmo já em 2019, me preparei para obter a certificação CGA da Anbima. Estou confiante em obtê-la em 2021, e com ela iniciar o processo de formalização da parceria.
No ínicio de 2020 nosso portfolio tinha Cyrela, Hering, Cielo, Metisa e Metalúrgica Gerdau. As proporções eram parecidas, com a exceção da Metisa, bem menor. A parceria estava toda investida, ou seja, não carregamos para o ano quase nada em dinheiro ou equivalente. Mesmo em janeiro de 2020, após alguns anos de subidas de preço, se viam oportunidades de compra. Seis meses mais tarde, o modo como iniciamos o ano parecia muito pouco inteligente: a epidemia de Covid havia derrubado o preço da grande maioria das empresas no Brasil e no mundo, e as cotações do nosso portfolio chegaram a cair mais de 40%. Esta alocação total em ações abre com chave de ouro a lista de erros que cometi em 2020.
Ao longo do ano, das posições iniciais, nos desfizemos apenas da Metisa. Continuo admirando a empresa e seus gestores. No entanto, a posição havia ficado pequena e a empresa há alguns anos não vinha mostrando planos de crescer. Anotem aí outro erro meu: a cotação da Metisa quase dobrou desde a nossa venda, subindo mais que o nosso portfolio no mesmo período.
Com a deflagração da pandemia, praticamente todas as ações do mundo caíram muito de preço, ao menos durante dois ou três meses. Quase todos os novos aportes à parceria foram usados para aumentar as posições nas empresas que já tínhamos. Continuamos olhando não um, mas 10 anos ou mais para o futuro. Reconheço que com isso deixamos passar algumas ideias oportunísticas, como e-commerce. Ao mesmo tempo, sigo muito confiante nas nossas empresas e nas pessoas que cuidam delas todos os dias.
Cada ano é, à sua maneira, peculiar. Mas 2020 conseguiu ser bem mais peculiar do que a média. Junto com a angústia e sofrimento de tantos pelo bem-estar de entes queridos e do mundo como um todo, testemunhamos uma manifestação, esta bem típica, da psicologia coletiva sobre os preços de empresas. Foi um momento propício a se tomar algum risco.
Encontramos duas empresas expurgando lideranças questionáveis e passando por crises duríssimas e, creio eu, transponíveis: a CVC e a IRB Brasil. A CVC é a conhecida empresa de viagens. A IRB Brasil é a maior empresa de resseguros do país, que fez seu IPO há poucos anos carregando números problemáticos em seus balanços recentes. Empresas bastante diferentes entre si, com problemas sérios, e que tinham visto suas cotações caírem entre 80% e 90% dos picos recentes. Nesse nível já nos pareceu uma queda exagerada demais. Tão importante quanto, pudemos ver trocas nas lideranças principais, que nos deixavam relativamente otimistas para o futuro. Adquirimos participações bem pequenas nas duas, de mais ou menos 5 e 3% do portfolio em cada, com um caráter especulativo. Aí talvez tenhamos errado novamente, porque ambas as empresas subiram bastante de preço desde então. Neste caso estou em paz com a decisão de limitar bastante nossos movimentos especulativos.
Readquirimos uma pequena participação na Trisul, empresa de construção de imóveis. Talvez vocês se lembrem que nos desfizemos da Trisul em 2019. Naquele momento ela havia subido bastante de preço, e numa oferta secundária, a empresa havia vendido novas ações. Com a pandemia, as cotações da Trisul caíram muito, e aí passamos a ter uma empresa com todo o caixa que ela havia levantado vendendo as ações, e as ações agora muito mais baratas. Até o momento essa decisão se mostrou moderadamente acertada para a nossa parceria.
Adquirimos outra pequena participação na Mahler Metal Leve. A Mahler fabrica peças para automóveis e mobilidade de uma forma geral. É o tipo da empresa sólida, com ótimo balanço mas que não era vendida a um preço convidativo. Em 2020 ela entrou em níveis convidativos. Até o momento a Mahler representa uma porção bem pequena do portfolio.
Encerramos o ano com participações que esperamos que durem bastante, em empresas que já estavam conosco, mais uma mini-carteira de pequenas participações que, juntas, equivalem mais ou menos à participação em uma das empresas de mais longa data. São oito empresas no total. Considero mais provável terminarmos 2021 com 6 empresas na carteira do que 8 empresas, sempre com a filosofia de estudar bastante e depois focar os recursos nas nossas melhores ideias de longo prazo.
Desejo um novo ano com muita saúde e felicidade para vocês, suas famílias e amigos.