If you’re in Rio from March 12 to April 30, be sure to go see Felipe’s paintings at MUV Gallery in Ipanema.
Here’s what I wrote about it (in Portuguese):
Em uma talentosa geração de novos pintores, Felipe Fernandes há alguns anos vem recebendo atenção particular e crescente de seus pares e de quem gosta de arte.
Artistas, como as demais pessoas, se definem tanto pelo que fazem quanto pelas coisas que não fazem. Antes de descrever o que de melhor ele faz, eu gostaria de apontar algumas das estratégias atuais que Felipe tem evitado.
A primeira é a dos temas escandalosos ou facilmente polêmicos: vísceras, tabus sexuais, bombardeios no Oriente Médio, animais copulando na rua ou ataques aos costumes.
A segunda é a da pintura em grandes dimensões, muitas vezes feita com o intuito de ocupar espaços expositivos maiores. Frequentemente, pinta-se grande, porém dividindo o trabalho em pedaços menores para facilitar o transporte e a entrada na casa dos compradores – com o ônus de que a pintura perde toda a coesão ao ser azulejada.
A terceira é a ambição literária. Não vamos encontrar frases com sacadas linguísticas nas telas ou nos títulos das suas pinturas.
A quarta é a ambição científica. Felipe não encara seu trabalho de pintor como “pesquisa”, e nem lança mão de outros procedimentos que, mais do que fertilizar a arte com os métodos da ciência, acabam deixando claro como nós artistas somos ingênuos quanto ao que constitui ciência.
A quinta é o uso da fita crepe na pintura. A fita crepe, usada para delimitar as áreas a ser pintadas, está para a pintura assim como os preservativos estão para o sexo — anulam o perigo, atenuam o prazer, e, salvo acidentes, esterilizam o ato.
É claro que cada uma dessas estratégias tem praticantes extraordinários. Hoje, no entanto, todas elas dão sinais menos ou mais claros de exaustão.
Quando Felipe definiu o nome desta exposição, “Primário”, ele explicou que escolheu a palavra para se referir aos princípios, às coisas primitivas, primevas da pintura. É aí que estão a força e afirmação de seu trabalho.
A pintura de Felipe Fernandes é feita categoricamente com o pincel. Não vou me deter neste fato, a não ser para lembrar que as duas mais famosas pintoras do Brasil negam o pincel – uma parcialmente e outra integralmente.
A pintura de Felipe é uma pintura das cores, mais ainda agora que ele amplia sua palheta com marrons, pretos, brancos e passagens mais saturadas.
A pintura de Felipe passa a ser também, nas obras desta exposição, uma pintura de contrastes e gradações entre fosco e brilhante, tinta carregada e velaturas muito diluídas, densidade de ataques e silêncios.
Até as formas reconhecíveis são primais: folhas, dentes, flores, olhos, vasos, xícaras, mãos.
Sem forçar a barra, Felipe não nega ao espectador a chance de acompanhar, pelos pentimenti (os traços cobertos pelas sucessivas mudanças de ideia na pintura, que podem deixar relevo), o caminho de seu raciocínio e sensibilidade.
O resultado são pinturas intrigantes à primeira vista ou após muito tempo, quando vistas de longe ou de muito perto. Isto é raro.
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