Caros parceiros,
o retorno da nossa parceria em 2018 foi de 11,51%. A cota encerrou o ano a R$1,08264.
Nossa parceria ficou aquém do índice Bovespa, que subiu 15,03% no ano, por 3,52 pontos percentuais.
Ano | Nosso Fundo | Ibovespa |
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2017 | 29,44% | 26,86% |
2018 | 11,51% | 15,03% |
Acumulado | 44,34% | 45,93% |
Em 2018, descontando leituras de livros e artigos sobre investimentos, dediquei 144 horas à análise de empresas — um aumento de 27,43% em relação a 2017.
Um outro número de menor importância, porém digno de menção, foi o aumento de 49,18% nos ativos sob administração, ou seja, o total de reais no fundo. Vale lembrá-los de que toda a minha poupança vai para este fundo, e se isso porventura mudar algum dia, vocês serão informados com antecedência. O princípio é simples: objetivos compartilhados e a certeza de que estou cuidando da parceria com o mesmo zelo com que cuido do futuro da minha família.
Ao longo deste ano não vendemos nenhuma das ações que tínhamos no dia 1º de janeiro. Nosso portfólio consistia em 4 empresas: Cyrela, Hering, Metisa e Tarpon. A participação na Cyrela, que em janeiro era “nova e relativamente menor”, recebeu acréscimos e, junto com alguma apreciação, hoje representa um quarto do portfólio. O ano foi fértil em ideias de investimento, num total de duas: inauguramos participações, ambas também muito novas e relativamente menores, na Construtora Trisul e na Cielo, empresa de meio de pagamentos.
Os parceiros que prestaram atenção às atualizações trimestrais deste ano certamente observaram a grande volatilidade nas cotações do fundo, e em menor medida no mercado como um todo. É mesmo de se esperar que nosso fundo, que teve de 4 a 6 empresas ao longo de 2018, exiba variações muito mais amplas de cotação do que índices com dezenas de empresas. Desta forma, eu não me sentirei um investidor fracassado se em determinado trimestre, semestre ou ano formos pior do que determinado índice, e da mesma forma não me sentirei um gênio se o oposto acontecer. Ao longo de mais tempo, por exemplo blocos de 5 anos, o objetivo continua sendo superar consistentemente o índice Bovespa.
Uma pergunta que veio de parceiros este ano foi sobre expectativas quanto ao trimestre subsequente a cada atualização que envio, talvez uma espécie de “guidance”. A verdade é que admitir que não temos poderes de clarividência já é uma vantagem competitiva: muitas pessoas extrapolam precedentes ou apostam em repetições duvidosas de fatos para alocar capital, com consequências muitas vezes desastrosas para suas economias.
Felizmente, com um prazo maior podemos vislumbrar o futuro de modo bastante útil. É possível, por exemplo, dizer que a saúde financeira atual de algumas empresas brasileiras e a sua capacidade de ganhos, comparadas aos seus preços de hoje, nos dão grande confiança de retornos expressivos em um horizonte de 10 anos para investidores pacientes e cautelosos.
E já que estamos falando de cautela, é hora da parte mais importante das nossas cartas: os erros do ano. Em 2018 tivemos algo que tem toda a cara de erro e de qualquer modo nos custou bastante: a Tarpon Investimentos.
Comprei participação na Tarpon nos primeiros meses de 2017. Naquele momento muitas empresas brasileiras estavam à venda por preço equivalente a menos de 10 anos da média dos seus lucros recentes, mas o caso da Tarpon era mais extremo, girando em torno de 3 anos.
Não é de se esperar que empresa alguma chegue a este preço sem um gatilho negativo. Mais de 4 anos antes, a Tarpon havia tomado a arrojada decisão de, fugindo de seu histórico de investidores passivos, controlar e operar suas investidas. Não só isso: pouco tempo depois ela concentrou a maior parte de seu capital em uma só empresa: a BRF de Sadia e Perdigão.
A história é longa e até, para um livro, interessante. Hoje sabemos que ela culminou na Operação Carne Fraca e até mesmo na prisão preventiva de Pedro Faria (sócio da Tarpon que foi CEO da BRF) e no indiciamento dele, do então CEO Zeca Magalhães e de Abílio Diniz, presidente do conselho da BRF trazido ao cargo pela Tarpon.
A intersecção entre “histórias interessantes” e “bons investimentos no longo prazo” é bastante pequena, e acredito que seja mais útil compartilhar os aprendizados deste investimento para prevenir a repetição de erros:
- Aplicar o mesmo nível de exigência quanto a baixo nível de dívidas ao analisar as subsidiárias. A Tarpon em si não tinha dívida nenhuma, mas suas subsidiárias tinham níveis de dívidas que me fariam pensar mais de duas vezes antes de investir diretamente.
- Preferir muita clareza, transparência e facilidade de entender o negócio. Desvendar o portfolio da Tarpon demandou esforço. Hoje eu encaro isso como um sinal de perigo. Minhas tentativas de contato com a empresa para fazer perguntas nunca tiveram resposta. Na época eu racionalizei que, por ser um investidor pequeno, talvez não merecesse a atenção. Hoje eu racionalizaria que eles é que não merecem o nosso investimento.
O ano terminou com a notícia da intenção da Tarpon de fechar seu capital, horas após o último pregão de 2018. Mesmo ressaltando que até agora não foi divulgada nenhuma evidência de atuação criminosa por parte dos executivos da Tarpon, o fato de a empresa ter vendido ações no meio do ano a R$2,58 para cobrir folha de pagamento e, tão pouco tempo depois, anunciar a intenção de recomprar as mesmas ações por R$2,25 é um sinal muito forte, talvez até para os investidores mais pacientes, de que o melhor a fazer é agradecer ao milagre da diversificação e buscar outras ideias.
Entramos em 2019 com quase 35% do nosso portfolio em duas empresas de construção de imóveis: a Cyrela e a Trisul. São companhias de tamanhos muito diferentes, mas que têm em comum o fato de estarem passando pela grave crise no setor com as finanças equilibradas. Também aqui o fim do ano trouxe notícias que podem afetar, desta vez positivamente, nossos resultados: a mudança na Lei do Distrato. Até a semana passada, um comprador de imóvel na planta que desistisse da compra conseguiria 50% do seu dinheiro de volta. A boa intenção de proteger o consumidor acabou desencorajando as empresas de assumir o risco de oferecer novos imóveis. Com a mudança, esse percentual de restituição em caso de desistência tende a ser muito reduzido, e as empresas contarão também com um tempo de carência de 6 meses para entregar os imóveis sem sofrer multas.
Nosso investimento em Cyrela e Trisul não foi pautado em mudanças na legislação, e sim em acreditar que as administrações são competentes e que, o setor superando o momento de dificuldade, ambas estarão muito bem preparadas para dar ótimos resultados nos próximos anos.
Se já admiti que a Tarpon é dúvida em nossa carteira para o futuro, digo também que acredito que teremos longa parceria com nossas demais empresas. Acredito também que deveremos ter uma diversificação um pouco maior do que 5 ou 6 empresas, e trabalharei bastante para encontrar as próximas ideias de investimento para a parceria.
Na carta do ano passado mencionei a intenção de converter esta parceria ainda bastante informal em algo formalizado, permitindo que tenhamos valores mais significativos no portfolio. A intenção continua firme e forte. Não tenho um cronograma para isso, mas me comunicarei com cada um de vocês no momento oportuno.
Terei prazer em responder a quaisquer perguntas, em qualquer momento. Se eu não tiver deixado algo claro na carta, por gentileza não hesitem em me avisar para que eu possa esclarecer para todos.
Um ótimo 2019 para você, seus familiares e amigos!